10 de junho de 2012

Comentário do conto "Antes do Baile Verde", de Lygia Fagundes Telles

Em “Antes do baile verde”, Lygia Fagundes Telles traça o perfil moral da ingratidão, do egoísmo e da mesquinharia humana. O narrador não é muito pródigo em informações, limitando-se ao estritamente essencial. Ao fim e ao cabo, a narrativa ocupa apenas o espaço temporal de um dia, e desenrola-se no interior de um apartamento, no qual três pessoas convivem: um idoso enfermo, sua filha (Tatisa) e uma criada (Lu). A filha – Tatisa – é uma mulher frívola, superficial e egoísta que só pensa em si mesma. Sem a mínima capacidade de assumir seus erros, ela transfere sua culpa, que se insinua e a incomoda, para outras pessoas ou circunstâncias, numa evidente inquietação para justificar seus atos não só para a criada como para si mesma.

“Aquele médico miserável. Tudo culpa daquela bicha. Eu bem disse que não podia ficar com ele aqui em casa, eu disse que não sei tratar de doente, não tenho jeito, não posso! Se você fosse boazinha, você me ajudava, mas você não passa de uma egoísta, uma chata que não quer saber de nada. Sua egoísta.”

Mesmo diante da cena em que vê uma lágrima descendo na face do moribundo Tatisa reluta em desistir de sair para o baile. Na verdade, Tatisa sente-se invadida por dois sentimentos antagônicos: a angústia causada pelo sentimento de culpa (relacionada ao seu descaso com o pai) e o receio (da reação que teria o namorado caso ela se atrasasse). Todavia, entre aban-donar o pai moribundo e aborrecer o namorado, a insensível filha não tem dúvidas em prefe-rir não provocar desentendimento com este a dar assistência ao pai.

O conto não tem um desfecho. Trata-se de uma narrativa aberta, ou seja, sem um desenlace criado pela autora que, como tal, permite ao leitor tornar-se um participante na criação lite-rária, elaborando o final de acordo com o seu próprio ponto de vista.



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