17 de abril de 2013

Comentário do conto "Cadeira de Balanço".


“Cadeira de Balanço” é mais um interessante conto de Osman Lins, inserido na coletânea “Os Gestos”. Neste livro encontra-se o rigor formal característico deste autor - artesão da palavra -, além de entrar em contato com os personagens inseridos num ambiente doméstico opressor. Nos contos de Os Gestos, o silêncio representa a impotência das personagens.

Neste conto, o autor apresenta um aspecto inusitado ao formato usual das narrativas: uma abordagem predominantemente lírica da condição humana, observável na forma como expõe os sentimentos, os relacionamentos afetivos, e as limitações e incapacidades do ser humano perante a vida. Para isso, Osman Lins utiliza-se largamente da análise do pensamento da personagem feminina, de seus fluxos de consciência mais íntimos, e da análise de seus pequenos gestos, simples e singelos, mas carregados de significado e sentimento, nunca fugindo do contexto da impotência do ser humano frente às situações da vida. 

"Cadeira de balanço", um conto breve, todo ele transcorrido no pensamento da personagem Júlia Mariana, uma mulher casada e grávida. É uma gestação sob riscos, que requer muitas restrições alimentícias e muito repouso, ambas as coisas praticamente impossíveis de serem cumpridas, porque ela precisa cumprir os afazeres domésticos, cuidar do marido, Augusto, que dela já se afasta, talvez, pelo estado alterado do corpo da esposa, inchada, indisposta, com as veias aparentes com a qual não dialoga nem demonstra o mínimo interesse pelo seu bem estar, sua saúde... Trata-se, portanto, de uma relação fria, pautada num aflitivo silêncio, numa sistemática ausência de comunicação. 

Júlia Mariana só se consola quando está na cadeira de balanço do marido, onde pode descansar o corpo pesado e sofrido de uma gravidez complicada. Uma tarde, não consegue cumprir seus afazeres e pensa (todo o conto é o pensamento da personagem) que, quando morrer, Augusto sentirá o valor dela; depois, se arrepende, porque são muitas as mulheres disponíveis e outra ocupará seu lugar. É assim, perdida nos pensamentos e sem concluir suas tarefas domésticas, que o marido a encontra, no “ritual de chegada”, quando volta do trabalho, e, sem uma palavra, apenas com o gesto de tocá-la no ombro, faz com que ela saia da cadeira de balanço para que ele sente e leia o jornal. Sequer a olhá-la, sem uma indagação sobre como passou o dia. Nada... Somente a indiferença, a atitude de superioridade machista e insensível.


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